Já partilhámos aqui no NeuroSer algumas das dificuldades sentidas pelos cuidadores face à ocupação do banho. No entanto, a higiene é uma área com um alcance muito superior, que envolve outras ocupações, tais como:
- a higiene oral,
- a utilização da sanita,
- lavar as mãos,
- vestir roupa limpa.
Como sabemos que também estas ocupações se podem tornar problemáticas, mesmo que sejam percebidas como mais fáceis, damos-lhe algumas informações sobre o que poderá causar as dificuldades e de que forma as poderá superar.
Higiene Oral
As dificuldades relativas à higiene oral podem estar relacionadas, entre outras razões, com:
- Dificuldades sensoriais, que dificultam a tolerância à utilização de uma escova de dentes;
- Incapacidade de compreender a necessidade deste tipo de higiene;
- Dificuldades em planear e sequenciar o que deve fazer.
Para superar estas dificuldades propomos:
- Colar numa superfície visível um lembrete para a higienização dos dentes ou prótese dentária;
- Colar numa superfície visível um esquema dos passos a realizar para a higienização dos dentes ou prótese dentária;
- Utilizar pastas de dentes com sabores menos agressivos (o seu familiar poderá ter tendência para evitar sabores fortes e possivelmente desagradáveis, como mentol, por exemplo);
- Optar por escovas de dentes mais suaves, logo menos agressivas;
- Em visitas ao dentista, informe-se sobre opções de procedimentos que facilitam a intervenção com a pessoa com demência.
Utilização da sanita
Esta talvez seja uma das ocupações em que a relação da pessoa com demência e do seu cuidador é mais importante, bem como o tipo de suporte que a pessoa necessita.
Lembre-se que o suporte a prestar ao seu familiar deve ser o mínimo possível, sem colocar em causa a sua segurança, mas promovendo a independência.
Para potenciar o desempenho independente da pessoa com demência pode:
- Pedir a sua ajuda para baixar as calças e roupa interior;
- Pedir ajuda para retirar do suporte o papel higiénico ou papel higiénico húmido (toalhitas), que poderão ser uma mais valia nestes casos, por promoverem uma higiene mais eficaz;
- Pedir ajuda na higiene com o papel higiénico ou papel higiénico húmido, dando apenas orientação verbal à pessoa acerca do que deve fazer.
Tenha em atenção que, em fases mais avançadas, a pessoa com demência poderá não reconhecer o seu cuidador (mesmo que este seja um familiar), e sentir a sua ajuda como uma violação da sua privacidade. Tente ser paciente, manter o contacto visual e voz calma, por forma a tranquilizar a pessoa. Se esta recusar a utilização da sanita ou se verificar um elevado nível de ansiedade, tente novamente mais tarde.
Lavar as mãos
Este é um hábito importante, mas muitas vezes desvalorizado. Deve estimular o seu familiar a lavar as mãos em água corrente. No entanto, se isso não for possível, pode optar por um recipiente com água ou por toalhetes húmidos.
Para facilitar este hábito, sugerimos que:
- Utilize água a uma temperatura agradável para o seu familiar;
- Indique, através de orientações verbais ou esquemas colados em superfícies visíveis, os passos para a lavagem das mãos;
- Utilize produtos com aromas agradáveis e que vão ao encontro das preferências da pessoa;
- Utilize toalhas para secar as mãos, que tenham cores atractivas, para que a pessoa com demência as identifique com maior facilidade;
- Se possível, tenha em sua casa torneiras com um manípulo que facilite a utilização (ao contrário dos manípulos de rodar, por exemplo).
Vestir roupa limpa
Se o seu familiar mostrar alguma resistência em mudar de roupa, este comportamento pode estar relacionado com várias causas, tais como:
- Incapacidade de fazer julgamentos face ao estado das suas roupas;
- Sentir-se confortável com uma peça e, dessa forma, querer vesti-la constantemente;
- Dificuldade na escolha da roupa, optando assim pela opção mais fácil, que será a de vestir o mesmo;
- Preferir cores sólidas, em vez de padrões, que podem actuar como estímulos distratores;
- existir uma desorientação temporal, o que faz com que a pessoa perca a noção em relação ao dia em que está e há quanto tempo vestiu aquela peça de roupa;
- Défices sensoriais ao nível olfactivo, característicos do envelhecimento, que dificultam a percepção do odor desagradável das suas roupas.
Para superar estas dificuldades, sugerimos que:
- Evite afirmar que as roupas estão sujas ou com odor desagradável (em vez disso, faça sugestões, pois irá evitar que a pessoa com demência se sinta julgada);
- Guarde no roupeiro da pessoa com demência apenas algumas opções, para facilitar o processo de escolha;
- Respeite os gostos pessoais do seu familiar;
- Se possível, compre roupas idênticas às preferidas da pessoa com demência (padrões, cores, tamanho, textura);
- Retire as roupas sujas do quarto do seu familiar enquanto este dorme, e substitua por outras peças para utilizar no dia seguinte;
- Opte por promover a troca de roupa logo pela manhã ou após o banho, que são alturas do dia em que é mais natural fazê-lo.
Se se depara com alguma destas problemáticas e as estratégias sugeridas não solucionaram as dificuldades com o seu familiar, não desista!
Cada pessoa é diferente e, por isso mesmo, precisa de estratégias diferentes que se adequem ao seu caso e à sua família.
Texto: NeuroSer