Centro de Diagnóstico e Terapias: Alzheimer e Outras Patologias

Horário : Segunda a Sexta das 09h00 às 19h00
  Contacto : +351 21 750 6010 | info@neuroser.pt

Demência: Quando a higiene básica se torna uma batalha

Já partilhámos aqui no NeuroSer algumas das dificuldades sentidas pelos cuidadores face à ocupação do banho. No entanto, a higiene é uma área com um alcance muito superior, que envolve outras ocupações, tais como:

  • a higiene oral,
  • a utilização da sanita,
  • lavar as mãos,
  • vestir roupa limpa.

Como sabemos que também estas ocupações se podem tornar problemáticas, mesmo que sejam percebidas como mais fáceis, damos-lhe algumas informações sobre o que poderá causar as dificuldades e de que forma as poderá superar.

Higiene Oral

As dificuldades relativas à higiene oral podem estar relacionadas, entre outras razões, com:

  • Dificuldades sensoriais, que dificultam a tolerância à utilização de uma escova de dentes;
  • Incapacidade de compreender a necessidade deste tipo de higiene;
  • Dificuldades em planear e sequenciar o que deve fazer.

Para superar estas dificuldades propomos:

  • Colar numa superfície visível um lembrete para a higienização dos dentes ou prótese dentária;
  • Colar numa superfície visível um esquema dos passos a realizar para a higienização dos dentes ou prótese dentária;
  • Utilizar pastas de dentes com sabores menos agressivos (o seu familiar poderá ter tendência para evitar sabores fortes e possivelmente desagradáveis, como mentol, por exemplo);
  • Optar por escovas de dentes mais suaves, logo menos agressivas;
  • Em visitas ao dentista, informe-se sobre opções de procedimentos que facilitam a intervenção com a pessoa com demência.

Utilização da sanita

Esta talvez seja uma das ocupações em que a relação da pessoa com demência e do seu cuidador é mais importante, bem como o tipo de suporte que a pessoa necessita.

Lembre-se que o suporte a prestar ao seu familiar deve ser o mínimo possível, sem colocar em causa a sua segurança, mas promovendo a independência.

Para potenciar o desempenho independente da pessoa com demência pode:

  • Pedir a sua ajuda para baixar as calças e roupa interior;
  • Pedir ajuda para retirar do suporte o papel higiénico ou papel higiénico húmido (toalhitas), que poderão ser uma mais valia nestes casos, por promoverem uma higiene mais eficaz;
  • Pedir ajuda na higiene com o papel higiénico ou papel higiénico húmido, dando apenas orientação verbal à pessoa acerca do que deve fazer.

Tenha em atenção que, em fases mais avançadas, a pessoa com demência poderá não reconhecer o seu cuidador (mesmo que este seja um familiar), e sentir a sua ajuda como uma violação da sua privacidade. Tente ser paciente, manter o contacto visual e voz calma, por forma a tranquilizar a pessoa. Se esta recusar a utilização da sanita ou se verificar um elevado nível de ansiedade, tente novamente mais tarde.

Lavar as mãos

Este é um hábito importante, mas muitas vezes desvalorizado. Deve estimular o seu familiar a lavar as mãos em água corrente. No entanto, se isso não for possível, pode optar por um recipiente com água ou por toalhetes húmidos.

Para facilitar este hábito, sugerimos que:

  • Utilize água a uma temperatura agradável para o seu familiar;
  • Indique, através de orientações verbais ou esquemas colados em superfícies visíveis, os passos para a lavagem das mãos;
  • Utilize produtos com aromas agradáveis e que vão ao encontro das preferências da pessoa;
  • Utilize toalhas para secar as mãos, que tenham cores atractivas, para que a pessoa com demência as identifique com maior facilidade;
  • Se possível, tenha em sua casa torneiras com um manípulo que facilite a utilização (ao contrário dos manípulos de rodar, por exemplo).

Vestir roupa limpa

Se o seu familiar mostrar alguma resistência em mudar de roupa, este comportamento pode estar relacionado com várias causas, tais como:

  • Incapacidade de fazer julgamentos face ao estado das suas roupas;
  • Sentir-se confortável com uma peça e, dessa forma, querer vesti-la constantemente;
  • Dificuldade na escolha da roupa, optando assim pela opção mais fácil, que será a de vestir o mesmo;
  • Preferir cores sólidas, em vez de padrões, que podem actuar como estímulos distratores;
  • existir uma desorientação temporal, o que faz com que a pessoa perca a noção em relação ao dia em que está e há quanto tempo vestiu aquela peça de roupa;
  • Défices sensoriais ao nível olfactivo, característicos do envelhecimento, que dificultam a percepção do odor desagradável das suas roupas.

Para superar estas dificuldades, sugerimos que:

  • Evite afirmar que as roupas estão sujas ou com odor desagradável (em vez disso, faça sugestões, pois irá evitar que a pessoa com demência se sinta julgada);
  • Guarde no roupeiro da pessoa com demência apenas algumas opções, para facilitar o processo de escolha;
  • Respeite os gostos pessoais do seu familiar;
  • Se possível, compre roupas idênticas às preferidas da pessoa com demência (padrões, cores, tamanho, textura);
  • Retire as roupas sujas do quarto do seu familiar enquanto este dorme, e substitua por outras peças para utilizar no dia seguinte;
  • Opte por promover a troca de roupa logo pela manhã ou após o banho, que são alturas do dia em que é mais natural fazê-lo.

Se se depara com alguma destas problemáticas e as estratégias sugeridas não solucionaram as dificuldades com o seu familiar, não desista!

Cada pessoa é diferente e, por isso mesmo, precisa de estratégias diferentes que se adequem ao seu caso e à sua família.

Texto: NeuroSer