Centro de Diagnóstico e Terapias: Alzheimer e Outras Patologias

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Demência: Quando o banho se torna uma batalha

Enquanto cuidadores de uma pessoa com demência, os familiares são confrontados com dificuldades diárias, principalmente no que diz respeito aos cuidados pessoais. Um dos problemas mais frequentemente reportado pelos cuidadores, diz respeito ao banho. Esta ocupação é de cariz tão íntimo, que se torna muitas vezes difícil para a pessoa com demência aceitar ajuda de outras pessoas ou compreender o porquê dessa necessidade. Partilhamos algumas estratégias que podem facilitar este momento.

Porque é que o meu familiar tem comportamentos desadequados no banho?

É comum que algumas pessoas com demência se tornem resistentes, ansiosas ou agressivas face a tomar banho, sendo que estes comportamentos podem surgir devido a diversos aspectos, tais como, a pessoa:

  • não compreender a necessidade de tomar banho,
  • não se sentir confortável com a nudez à frente de outras pessoas (mesmo familiares),
  • sentir-se desconfortável com a temperatura ambiente ou com a temperatura da água,
  • ter receio da água,
  • sentir-se desconfortável com a pressão do chuveiro,
  • ter receio da profundidade da água, entre muitos outros aspectos.

Será importante que tente compreender quando é que os comportamentos desadequados se iniciam, para tentar compreender a sua causa.

É essencial que se mantenha flexível e que não interprete estes comportamentos como algo pessoal, uma vez que são influenciados pelas características da própria demência.

O que é que posso fazer para facilitar o banho, antes de começar esta ocupação?

Permita ao seu familiar participar no máximo de etapas para a preparação do banho possíveis, como por exemplo: escolher a roupa que vai utilizar depois do banho, preparar as toalhas e os produtos de higiene, encher a banheira com água, entre outros.

É importante que a casa de banho seja um local percepcionado pela pessoa com demência como confortável e seguro, por isso pode:

  • utilizar um aquecedor para ajustar a temperatura do espaço (não se esqueça de manter a segurança),
  • permitir à pessoa que experimente a temperatura da água e ajustá-la face à sua reacção,
  • aquecer as toalhas,
  • utilizar música de acordo com as preferências do seu familiar ou sons relaxantes
  • utilizar algumas gotas de corante azul na água para facilitar a percepção visual (é possível que o seu familiar sinta receio da água, se não for capaz de a ver).

Convide o seu familiar a participar nestas tarefas de preparação do banho.

O meu familiar já não consegue fazer nada sozinho. Como é que posso promover a sua participação no banho?

Embora a pessoa com demência possa necessitar do seu suporte em muitas etapas do banho e sinta que ela é completamente dependente, deve sempre tentar promover a autonomia do seu familiar, garantindo que a segurança não é posta em causa.

Algumas estratégias para promover a autonomia são:

  • permitir a escolha da pessoa (por exemplo: mostre dois tipos de esponja e pergunte, de forma simples, qual prefere),
  • atribua à pessoa uma tarefa simples (por exemplo: lavar uma das pernas da pessoa e pedir que ela repita na outra perna, ou pedir que segure a esponja enquanto o cuidador coloca a quantidade adequada de gel de banho),
  • respeite a forma como a pessoa realiza a ocupação, desde que a segurança não seja colocada em causa (por exemplo: se o cuidador costuma lavar o cabelo primeiro, mas a pessoa com demência começa a lavar o corpo assim que segura a esponja, respeite essa decisão e seja flexível).

Outras estratégias que podem ser úteis.

  • Crie uma rotina de banho. Tente identificar qual a altura do dia em que a pessoa reage melhor ao banho e estabeleça essa hora do dia como “hora do banho”;
  • Simplifique tudo! O mais importante em relação ao banho é manter a higiene e saúde da pessoa, mas será que para isso é necessário utilizar diversos produtos, como champô e amaciador, ou basta um, por forma a diminuir a duração do banho? Simplifique tudo o que é possível simplificar;
  • Seja directo e utilize linguagem simples. Por exemplo, ajude a pessoa a participar, utilizando frases curtas como “sente-se” ou “lave o seu braço”;
  • Avise sempre o que vai fazer a seguir. Por exemplo, se vai molhar o cabelo da pessoa, dê essa informação à mesma, para diminuir as hipóteses de esta se assustar;
  • Utilize produtos de apoio, caso estes facilitem o banho, como por exemplo uma cadeira de banho ou barras de apoio (com aconselhamento do seu profissional de saúde);
  • Elogie a pessoa sempre que esta ajudar, mesmo que possa não ser uma ajuda eficiente! É importante elogiar para motivar a pessoa a participar;
  • Seja flexível quanto à frequência do banho ou a sua tipologia. Se num dia a pessoa estiver pouco colaborante e manifestar muita ansiedade face ao banho, opte por utilizar outra tipologia de higiene e, por exemplo, lavar o cabelo noutro dia.

Já tentei todas estas estratégias e continuo a ter dificuldades!

Se nenhuma destas estratégias resultou com o seu familiar, não desista. Cada pessoa é diferente e, por isso mesmo, precisa de estratégias diferentes que se adequem ao seu caso e à sua família. Além disso, o banho é uma ocupação complexa que envolve muitas etapas, sendo que existem outras estratégias que pode experimentar.

Contacte um profissional de saúde e peça aconselhamento face às dificuldades sentidas.

Texto: NeuroSer