Todos os dias cada um de nós recebe variadas informações do ambiente à sua volta, que têm significados diferentes e que são interpretadas pelo cérebro de forma diferente. Para receber essas informações, cada pessoa conta com os seus sentidos: o olfacto, a visão, o tato, a audição e o paladar. Estes cinco sentidos são a via através da qual o nosso cérebro recebe a informação do ambiente que nos rodeia e é desta forma que conseguimos interpretar estímulos exteriores como o som de um pássaro, a cor das flores, a textura da roupa, o aroma de um bolo ou o sabor de uma fruta. Assim sendo, é fácil compreender o quão importante é a função dos sentidos no dia-a-dia. No entanto, torna-se uma função ainda mais importante quando compreendemos que a cada pessoa são exigidas competências cognitivas na interpretação do ambiente, todos os dias, como a interpretação da linguagem, por exemplo, e que nem todas as pessoas conseguem responder a essas exigências. Quando estamos perante uma pessoa com demência, cujas competências cognitivas se encontram alteradas, é essencial compreender que a sua interpretação do ambiente poderá sofrer alterações e de que os estímulos deverão ser apresentados de uma forma simples e de fácil interpretação. É neste momento que os sentidos se tornam ainda mais importantes, uma vez que são a forma mais simples de obter informação sobre o ambiente à sua volta. Por exemplo, será mais fácil compreender qual o aspecto de um pássaro ao utilizar apenas a visão, do que ler sobre ele, o que irá exigir competências cognitivas.
A estimulação sensorial pode ser realizada ao nível dos cinco sentidos e deverá sempre ter em conta a pessoa como um Ser individual. Desta forma, será importante compreender, por exemplo, de que músicas a pessoa gosta, qual o seu prato preferido, se existe algum cheiro de que não goste, entre outros. Estas questões vão permitir adequar os estímulos à pessoa e obter assim uma melhor resposta ao ambiente.
A estimulação sensorial foi até ao momento alvo de alguns estudos que defendem que esta promove o humor, a socialização, a qualidade de vida e a expressão emocional e diminui os problemas comportamentais. Esta estimulação tem como objectivo o relaxamento, sendo importante que não se exija uma “forma correta” de reagir aos estímulos apresentados, já que cada pessoa irá interpretá-los de formas diferentes.
De uma forma geral, a estimulação sensorial poderá ajudar a pessoa com demência a compreender melhor o ambiente à sua volta (quer físico, quer social), facilitando assim a comunicação e promovendo a interacção.
Temos algumas ideias que poderá tentar em casa, no entanto relembramos que deverá aconselhar-se sempre com um profissional.
Visão
– Apresente ao seu familiar estímulos que sejam atractivos e com diferentes cores;
– Vejam em conjunto diferentes fotografias. Poderá criar um álbum ou molduras com diferentes materiais que sejam igualmente estimulantes (como marcadores, folhas secas, flores, impressões, entre outros).
Audição
– Apresente sons à pessoa e tentem identificar a sua origem (por exemplo, pássaros, piano ou xilofone);
– Em conjunto com o seu familiar, ouçam algumas músicas que ambos conheçam e tentem identificar o cantor (poderá usar fotografias para facilitar a identificação).
Olfacto
– Prepare frascos de especiarias e convide o seu familiar a tentar descobrir, através do olfacto, de que especiaria se trata;
– Convide o seu familiar a passear num jardim e a cheirar as flores.
Tacto
– Apresente ao seu familiar texturas diferentes (pode usar objectos que tem em casa, como lã, escovas, algodão, limas das unhas, entre outros);
– Convide o seu familiar a plantar algumas plantas e aproveite para mexer na terra, nas sementes e na água, explorando diferentes texturas e temperaturas.
Paladar
– Proponha ao seu familiar experimentar diferentes sabores e inclua alguns que sejam apreciados e outros que não. Desta forma, poderá explorar diferentes reacções;
– Convide o seu familiar a participar na preparação das refeições e a provar os ingredientes. Pode ainda pedir a sua opinião quanto ao tempero da receita que estão a preparar.
Aconselhamos a que tente integrar esta estimulação no dia-a-dia, por exemplo enquanto cozinha ou cuida do seu jardim. Poderá ainda criar uma actividade que contemple os cinco sentidos, com base num tema. Por exemplo, com base no tema outono, poderá apanhar folhas secas com o seu familiar e assar castanhas. Isto irá permitir que a pessoa veja as diferentes cores (visão), sinta a textura das folhas (tacto), ouça os pássaros durante o passeio (audição), sinta o aroma das castanhas acabadas de assar (olfacto) e prove as castanhas (paladar).
Texto: NeuroSer