A Doença de Parkinson é conhecida pelas suas alterações motoras, nomeadamente uma lentificação do movimento e outros sintomas tais como a rigidez muscular, tremor de repouso ou instabilidade postural. No entanto, cada vez mais se sabe que fazem também parte do quadro sintomas não motores como a depressão, a ansiedade ou as alterações cognitivas.
O facto da Doença de Parkinson ser classificada como uma doença do movimento por vezes leva a que os sintomas não motores sejam subvalorizados. No entanto, estes podem ser tão ou mais incapacitantes que as alterações motoras que caracterizam a doença.
Existe cada vez mais evidência de que os sintomas não motores, que ocorrem na Doença de Parkinson, não são apenas resultado de efeitos secundários dos medicamentos ou reactivos às adversidades da doença. Os próprios mecanismos patológicos da doença (alteração das vias dopaminérgicas) parecem estar na sua origem.
Humor
A alteração do humor é um dos sintomas não motores mais comuns na Doença de Parkinson, podendo até surgir muito antes dos sintomas motores. A grande maioria das pessoas com Doença de Parkinson apresenta sintomatologia depressiva. Mais especificamente, podem experienciar sentimentos de tristeza e infelicidade persistentes e incapacitantes.
As alterações motoras da Doença de Parkinson podem levar, por exemplo, a que uma pessoa tenha que deixar de trabalhar ou conduzir. No entanto, na ausência de uma perturbação do humor, a pessoa é capaz de se adaptar (com menor ou maior esforço) a essa mudança e procurar e alcançar a satisfação através de outras actividades. Uma vez que os sintomas depressivos são tão frequentes nesta doença, a adaptação necessária face à incapacidade motora pode ser menos adequada e, tal como o efeito de uma bola de neve, são geradores de maior incapacidade e menor qualidade de vida.
A depressão apresenta uma associação muito forte com outros sintomas não motores tais como a fadiga, a falta de energia, a lentificação psicomotora, a dor, a diminuição do apetite e as perturbações do sono. O tratamento da sintomatologia depressiva, poderá ajudar a reduzir o impacto das mesmas.
A apatia refere-se à falta de motivação e de interesse. É muito comum na Doença de Parkinson haver uma indiferença emocional e uma escassez de objectivos. As pessoas referem que já não têm prazer em realizar actividades que lhes interessavam anteriormente. Os cuidadores reportam que a pessoa com Doença de Parkinson já não participa em actividades sociais ou físicas.
Ocorre normalmente por uma degenerescência das áreas cerebrais reponsáveis pelo comportamento orientado para um objectivo ou recompensa.
Regra geral, a apatia é difícil de tratar. Para além dos fármacos disponíveis para o efeito, pode ser importante informar os doentes e os seus cuidadores. Mais especificamente, importa diferenciar a apatia de sentimentos de “preguiça” ou de uma falta de esforço consciente.
Ansiedade
A sintomatologia ansiosa é bastante comum na Doença de Parkinson, podendo ser independente ou concomitante à depressão. No entanto, sabemos que quando existe sintomatologia depressiva, a ansiedade é um componente proeminente. Muitas vezes está relacionada com flutuações motoras induzidas pela medicação, podendo manifestar-se como ataques de pânico, fobias, ou uma perturbação da ansiedade generalizada.
Cognição
A diminuição do funcionamento cognitivo é muito comum nesta doença.
As alterações cognitivas que acompanham a Doença de Parkinson são sobretudo ao nível da atenção (ex: diminuição da concentração ou dificuldade em ignorar estímulos no ambiente que não são relevantes para a tarefa em curso), do funcionamento executivo (ex: dificuldade em planear uma tarefa ou inibir estímulos ou respostas não relevantes/adequadas) e da memória (ex: dificuldade em evocar nomes ou informação previamente memorizada). Podem existir alterações noutros domínios cognitivos, nomeadamente ao nível da capacidade visuo-perceptiva e da velocidade de processamento de informação.
Os números variam de estudo para estudo, no entanto, podemos dizer que cerca de 40% das pessoas recentemente diagnosticados com Doença de Parkinson apresentam alterações cognitivas compatíveis com um Défice Cognitivo Ligeiro. Cerca de 30% das pessoas com Doença de Parkinson têm demência. Após 20 anos de evolução de doença, a maioria dos doentes já desenvolveram um quadro demencial.
É importante esclarecer que, apesar da sua prevalência considerável nesta população clínica, a Doença de Parkinson não é necessariamente acompanhada por um quadro demencial. É também de referir que, existindo uma demência, não é necessário que esta seja associada à Doença de Parkinson – podemos estar perante um outro tipo (ex: Doença de Alzheimer ou Demência Vascular) ou até uma combinação de vários tipos de demência (demência mista).
Comportamento
É comum as pessoas com Doença de Parkinson terem dificuldade em resistir a impulsos ou inibir comportamentos potencialmente nocivos para o próprio ou para outros. Muitas pessoas apresentam comportamentos patológicos de jogo (gambling), hipersexualidade, ingestão compulsiva de alimentos, repetição de tarefas inúteis ou irrelevantes e fazem compras de forma compulsiva. Uma perturbação do controlo de impulsos podem ter efeitos devastadores, por vezes levando à falência financeira ou à deterioração de relações interpessoais.
Estes comportamentos podem ser um secundários a algumas terapêutica anti-parkinsónicas.
Outros sintomas não motores
- Sonolência diurna excessiva: doentes podem adormecer ao volante, durante uma conversa ou no cinema. Em casos mais graves, a pessoa pode experienciar “ataques de sono” repentinos que não consegue controlar.
- Diminuição da capacidade olfativa (hiposmia): é um sintoma comum mas muitas vezes ignorado que pode ocorrer muito tempo antes dos sintomas motores.
- Perturbação do sono REM: caracterizada pela presença de sonhos vividos e presença de movimentos complexos durante o sono REM (movimentos rápidos dos olhos), sem a habitual “paralisia” muscular que se encontra nas pessoas saudáveis. Os doentes podem cair da cama abaixo, falar e rir à gargalhada e normalmente não se lembram dos episódios, sendo a história relatada pelo parceiro/a.
Revisão Clínica: Margarida Rebolo e Rita Ferreira