Quando falamos com um cuidador de uma pessoa com Alzheimer ou outra demência queremos mostrar-lhe apreciação pelo trabalho que faz e encorajá-lo a continuar.
Queremos reconhecer as dificuldades que este enfrenta e até mesmo mostrar que estamos dispostos a ajudar. As nossas intenções são boas, queremos ajudar e temos noção de que ser cuidador não é tarefa fácil. Quando tentamos verbalizar estes sentimentos, por vezes conseguimos fazê-lo de forma eficaz – outras vezes nem tanto…
É importante perceber que a forma como as nossas palavras vão ser interpretadas pelo cuidador depende muito da sua personalidade, mas também do seu estado de espírito naquele momento. Se estiverem muito sobrecarregados e ansiosos, um comentário, do nosso ponto de vista encorajador, pode ser mal interpretado e gerar uma reacção indesejada.
Evite dizer o seguinte a um cuidador:
“Está com cara de cansaço…”
Normalmente existe uma razão para os cuidadores estarem cansados ou abatidos. O cansaço pode advir das noites mal dormidas por preocupação excessiva, do esforço físico/emocional exigido ou da multiplicidade de papéis sociais que tem para além de cuidar (pai/mãe, filho(a), marido/esposa, profissional, administrador de condomínio, etc…). É um enorme desafio aprender a não sacrificar o cuidado próprio quando se cuida de uma pessoa com demência. No entanto, chamar a atenção para este facto não parece produtivo e pode ser bastante desmotivante.
“É importante arranjar tempo para cuidar de si!”
Qualquer cuidador reconhece a importância de arranjar tempo para si. Provavelmente se tivesse tempo para fazer uma massagem, ler um livro ou ir beber café com os amigos, fá-lo-ia. Não é por o verbalizarmos que o panorama irá mudar. Em vez de responsabilizarmos totalmente o cuidador pelo seu auto-cuidado, podemos ser proactivos – passar lá por casa com uma refeição já feita, ajudar nas tarefas domésticas ou fazer companhia à pessoa com demência para que o cuidador possa sair.
“Peça ajuda!”
Nem sempre os cuidadores têm uma rede de apoio eficaz. Por vezes os restantes familiares vivem longe ou as dinâmicas familiares são tão complexas que dificultam a distribuição dos cuidados pelos vários membros. A melhor forma de ajudar é oferecer sugestões concretas ou dar mesmo assistência prática.
“Vai correr tudo bem…”
Esta afirmação é de evitar pois desvaloriza e ignora a dura realidade de um cuidador. Os momentos de tomada de decisão são extremamente difíceis e a sobrecarga emocional associada ao cuidado de uma pessoa que tem uma doença neurodegenerativa, eventualmente fatal, é grande.
“Vamos falar de coisas positivas!”
Os cuidadores têm necessidade de falar sobre as suas frustrações e muitas vezes não têm disposição para contribuir com afirmações “positivas”. A realidade nem sempre é cor de rosa e os cuidadores precisam de se sentir apoiados. A melhor forma de o fazer é valorizar os seus sentimentos (positivos ou negativos!).
Mas afinal, o que devemos dizer a um cuidador?
“Como é que se está a sentir?”
Mostre que está disposto a ouvir e a valorizar os sentimentos do cuidador. Reformule aquilo que este verbaliza: “Pelo que me está a contar, parece-me que o que é mais complicado gerir são as mudanças de comportamento.” Não se sinta pressionado para arranjar uma solução para o problema. Por vezes, basta ouvir e estar ao lado da pessoa para esta se sentir melhor.
“Gostava de vos dar boleia para a consulta médica – aceitam? A que horas passo aí por casa?”
Tente aliviar a rotina do cuidador oferecendo ajuda de uma forma mais concreta.
“Lembrei-me de si e gostava de passar lá por casa para lhe deixar uma lembrança. Quando lhe dá mais jeito?”
Texto: NeuroSer