Para muitas famílias e cuidadores comunicar com a pessoa com demência pode tornar-se um desafio crescente, à medida que a memória vai ficando mais comprometida e que a sua capacidade de expressar os seus sentimentos diminui. A perda de memória recente pode fazer com que o passado se comece a fundir com o presente, traduzindo-se em dificuldades acrescidas para os familiares e cuidadores.
A teoria da validação foi construída sobre uma atitude empática e uma visão holística dos indivíduos. Esta contempla a pessoa com demência como um indivíduo único, com muito valor. Baseia-se na premissa de que as pessoas com esta doença crónica e progressiva estão a tentar resolver assuntos que deixaram por resolver de modo a poderem partir em paz.
O cuidador assume um papel importante no sentido de promover a expressão destas emoções, de forma verbal ou não-verbal. Acredita-se que, ao vermos a vida “através dos olhos” do outro, podemos entrar no mundo de pessoas com desorientação e melhor compreender o significado dos seus comportamentos.
Foram designados alguns princípios orientadores que visam auxiliar os cuidadores a validar as emoções da pessoa com demência e, consequentemente, a diminuir o seu sofrimento:
- Todos os indivíduos são únicos e devem ser valorizados:
Devemos abordar a pessoa com respeito e como um indivíduo único.
Por exemplo, uma senhora com 90 anos vive num lar de idosos. O cuidador dirige-se à idosa como “querida” ou “avó”. Segundo a terapia da validação, o cuidador deveria dirigir-se à senhora como “Sr.ª D. Maria” ou “Maria”, dependendo da situação.
- Pessoas com desorientação devem ser aceites como são: não devemos tentar mudá-las:
Não é benéfico tentar mudar um comportamento se o indivíduo não estiver pronto ou se não tiver capacidade cognitiva para o fazer. Contrariar a percepção da pessoa com demência, por mais longe que ela esteja da nossa realidade, não é producente.
Por exemplo, uma senhora com Doença de Alzheimer está convencida que a sua filha anda a deitar fora os seus pertences, incluindo álbuns de fotografias e o seu diário de quando era mais nova. No entanto, é ela própria que os esconde e depois se esquece onde os pôs. A filha contesta e fica profundamente ofendida com a acusação.
Segundo a terapia da validação, a filha poderia aproveitar a oportunidade para promover um momento de reminiscência com a mãe de uma forma positiva. “A sua aliança desapareceu. Acredita que fui eu que a roubei? É uma aliança muito bonita. Porque não me conta a história de quando conheceu o pai?”
- Quando os sentimentos de angustia são reconhecidos e validados por uma pessoa de confiança, estes podem ser atenuados:
A aceitação dos sentimentos expressos pela pessoa com demência, através da empatia, é muito importante. Ignorar ou desvalorizar sentimentos de angustia não contribui para atenuá-los – muito pelo contrário, pode exacerbá-los e levar à manifestação de comportamentos desafiantes. Ao reconhecê-los, gera-se confiança, reduz-se a ansiedade e contribui-se para restaurar a dignidade do indivíduo.
Por exemplo, a pessoa com demência pergunta “Onde está a minha mãe?”, e o cuidador responde “A sua mãe já morreu há 30 anos. Estamos em 2016.”
Neste caso, seria mais adequado validar o sentimento que está por detrás desta pergunta – possivelmente a pessoa está a perguntar pela mãe porque tem saudades dela. “Fale-me um bocadinho da sua mãe… Como é que ela era?”
- A desorientação pode sinalizar que uma ou mais das seguintes necessidades humanas não estão a ser supridas:
- Eliminar situações de dor ou desconforto.
- Compensar quando a visão, audição, mobilidade e a memória estão mais comprometidas;
- Sentir-se útil e produtivo;
- Ser ouvido e respeitado;
- Expressar sentimentos e ser escutado;
- Estabelecer contacto humano (sentimento de pertença e de amor); .
Apesar do resultados da validação se fazerem sentir gradualmente e não de um dia para o outro, estes podem ser muito positivos e permanentes. Pode resultar numa diminuição de comportamentos desafiantes, da labilidade emocional e dos níveis de deambulação e num aumento da eficácia da comunicação bem como da auto-estima.
Texto: NeuroSer