A orientação diz respeito à noção de alguns aspectos biográficos pessoais e dos contextos espacial e temporal onde estamos inseridos. Esta é uma das dimensões que encontramos afectadas num quadro demencial.
Regra geral, as pessoas com demência começam por apresentar uma desorientação temporal. Podem, por exemplo, achar que são mais novas do que são na realidade e “viver presas no passado”. À medida que a doença vai progredindo, as pessoas podem ficar mais confusas em relação ao seu contexto espacial, ou seja, em relação à sua localização geográfica. Esta desorientação espacial pode levar a que a pessoa se perca em percursos anteriormente familiares (na rua ou até mesmo em casa). Nas fases mais avançadas da demência, a pessoa pode não se lembrar do seu próprio nome ou até não conseguir reconhecer-se ao espelho.
Para além de ser frustrante e perturbadora, a desorientação pode constituir um risco para a pessoa com demência (por exemplo, se estiver desorientada no espaço e muito agitada, pode estar mais sujeita a cair).
A orientação para a realidade é uma técnica terapêutica utilizada para ajudar a pessoa com demência a restabelecer o contacto com o seu meio envolvente (com a sua realidade).
A orientação para a realidade não deve ser aplicada de uma forma muito rigorosa. Quer isto dizer que a orientação deve ser trabalhada de forma subtil nas tarefas do dia-a-dia.
Não existem evidências de que o treino isolado da data (dia, mês, ano) seja eficaz para melhorar a orientação temporal. Em vez disso, podemos introduzir na conversa comentários tais como “Estou tão cheia depois deste almoço!” (trabalhar a noção da hora do dia), “Hoje está um dia tão chuvoso… Nem parece que estamos na primavera!” (trabalhar a noção da estação do ano). Diga o nome da pessoa com demência frequentemente.
Pode colocar calendários/quadros de orientação (preferencialmente de grande dimensão) em várias divisões da casa, de maneira a que sejam visíveis.
Ao utilizar estas pistas de orientação, é importante não por a pessoa à prova. Evite perguntar “Em que ano estamos?”, “Quando é que faz anos?”, “Que horas são?” É muito provável que a pessoa não consiga responder e que fique frustrada com um contacto dessa natureza. Em vez disso, comente as horas: “Está quase na hora do almoço. Vamo-nos arranjar?”.
Promova a discussão em torno de temas da actualidade. Para esse efeito, retire notícias do jornal do dia e adapte-as para facilitar a sua compreensão (ex: apresente apenas o título e faça um breve resumo oral da notícia). Faça perguntas que não estão associadas a uma resposta certa ou errada de modo a promover a partilha de opiniões independentemente do conteúdo da resposta.
A orientação para a realidade nunca é aplicada de forma isolada mas é frequentemente introduzida em sessões de intervenção não farmacológica. A pessoa pode ser orientada para a época do ano através da simples utilização de alimentos sazonais (ex: castanhas; cerejas) numa sessão de culinária.
Também é de referir que nem todos os momentos são oportunos para fazer uma orientação para a realidade. Devemos escolher a abordagem que mais se adequa ao estado emocional da pessoa naquele momento e à sua personalidade. Por exemplo, se a pessoa com demência nos pergunta “Onde está a minha mãe?”, não é benéfico responder “A sua mãe já morreu há 30 anos. Estamos em 2016.” Neste caso, será mais adequado validar o sentimento que está por detrás desta pergunta – possivelmente a pessoa está a perguntar pela mãe porque tem saudades dela. “Fale-me um bocadinho da sua mãe…O que é que mais gostava nela?”
Assim, a aplicação desta técnica requer alguma sensibilidade e, por isso, é desejável que seja realizada por um profissional ou, alternativamente, que o cuidador informal seja orientado para a aplicar da melhor forma em casa.
Texto: NeuroSer