Qual o papel do Neuropsicólogo na reabilitação pós-AVC?
A maioria dos Acientes Vasculares Cerebrais (AVCs) resultam em algum tipo de alteração a nível cognitivo. Se falarmos de um AVC no hemisfério cerebral dominante para a linguagem – hemisfério esquerdo – podem ocorrer, por exemplo, alterações ao nível da linguagem, da capacidade práxica (programação de movimentos) e da memória verbal. No caso de um AVC no hemisfério não dominante – hemisfério direito – podem ocorrer alterações ao nível do reconhecimento de faces, da percepção visuo-espacial e do foco atencional para metade do nosso corpo ou do campo visual, por exemplo.
O neuropsicólogo tem um papel fundamental na reabilitação da função cognitiva mas também na normalização da dimensão emocional e comportamental pós-AVC.
A intervenção neuropsicológica junto de pessoas com lesão cerebral adquirida diferencia-se da intervenção realizada junto de pessoas com patologia neurodegenerativa.
Quando se dá um evento agudo como um AVC, considera-se que existe potencial para restituir a função perdida graças aos mecanismos de plasticidade que permitem que o cérebro se regenere. Neste caso, a intervenção é muito mais dirigida para o treino da função (ex: treino de memória) com o objectivo de aproximá-la o mais possível do seu nível pré-mórbido (estado anterior à lesão).
Já no caso de um quadro neurodegenerativo, o objectivo não é restituir a função mas sim desacelerar o ritmo de deterioração e promover a adaptação da pessoa e da família relativamente às perdas que vão ocorrendo com o decorrer da doença.
Existe muitas vezes a crença de que a reabilitação cognitiva se resume à realização de tarefas computorizadas. De facto, as tarefas computorizadas, com o acompanhamento presencial do neuropsicólogo, podem ser úteis, por exemplo, na reabilitação de alterações atencionais consequentes a um AVC. No entanto, esta técnica apenas deve ser complementar à restante intervenção e nunca assumir um papel preponderante.
Quando não é possível restituir a função, o neuropsicólogo pode sugerir estratégias compensatórias (por exemplo uma agenda ou sistema de post-its como auxiliar de memória) e realizar o ensino da sua utilização para garantir que a pessoa adere e se adapta à estratégia em questão.
Finalmente, é de referir que o neuropsicólogo tem um papel importante no acompanhamento emocional e logístico das famílias durante o processo de recuperação da pessoa que sofreu um AVC. As limitações motoras ou cognitivas podem implicar mudanças importantes na vida familiar e muitas vezes requerem uma orientação de um profissional que saiba trabalhar os processos psicológicos inerentes.
No NeuroSer, um caso de AVC é discutido em equipa multidisciplinar pois tem geralmente implicações a vários níveis: motores (exigindo a intervenção da fisioterapia), da comunicação (necessitando da contribuição da terapia da fala), cognitivos e emocionais (beneficiando da acção da neuropsicologia). Só assim poderá ser prestado um cuidado adequado e verdadeiramente personalizado.
Texto: NeuroSer