Já aqui falámos da terapia de reminiscência aplicada a pessoas com demência.
Algumas estratégias utilizadas na terapia de reminiscência podem ser aplicadas pelos familiares ou cuidadores de pessoas com demência.
Os cheiros, os sabores, os sons, os movimentos e as imagens podem todos fazer parte da reminiscência.
Por exemplo, o cheiro de uma sobremesa típica do Natal, de um guisado, dos bolos acabados de sair do forno, podem evocar memórias vividas e serem o início de uma longa conversa.
As músicas, típicas desta quadra, podem também ajudar a evocar memórias passadas e podem ter um efeito muito positivo no bem-estar geral.
Actividades em Família
A integração de todos os elementos da família na preparação da quadra natalícia pode traduzir-se numa experiência preciosa e muito gratificante para todos.
Deixamos-lhe alguns exemplos de actividades que podem ser realizadas em família e adaptadas às capacidades de uma pessoa com demência:
- Montar o presépio e explorar o seu simbolismo,
- Decorar a árvore de Natal,
- Relembrar histórias de Natais anteriores ou da infância,
- Explorar álbuns antigos de família,
- Escrever e enviar postais de Natal;
- Cozinhar em conjunto refeições típicas ou pedir as receitas de pratos desta época natalícia,
- Recriar jogos antigos, que permitam à pessoa com demência jogar sem dificuldades e até ensinar as regras e estratégias, ao mesmo tempo, que promovem a interacção e a partilha comum de experiências entre avós e netos.
- Cantar em conjunto as Janeiras ou outras canções de Natal.
Caixas de Memórias
Criar uma caixa de memórias pode também ser uma forma de estimulação e de evocação de memórias. Estas caixas podem ajudar a diminuir momentos de maior agitação e constituir uma actividade de partilha conjunta.
A junção da família pelo Natal pode constituir uma oportunidade única de pedir a participação de familiares mais distantes para actividades de reminiscência e para trazerem consigo fotografias ou objectos que promovam a conversação e interacção.
Uma caixa de memórias pode ser constituída por diversos objectos, como:
• fotos antigas
• fotos de família
• pequenos objectos decorativos
• objectos favoritos
• postais de Natal
• cartas
• receitas
• desenhos dos netos
• carteira
• outros objectos, como por exemplo do seu antigo trabalho ou hobbies.
Os momentos de reminiscência devem ser, no entanto, geridos com cuidado.
Considerando a progressão e as flutuações dos quadros demenciais, em alguns dias, a pessoa pode lembrar-se de muitos eventos apenas por olhar para um conjunto de fotos e, noutros dias, apenas recordar episódios esporádicos. É, assim, importante não “testar” a memória da pessoa quando se olha para os objectos ou fotos antigas, pois pode criar frustração ou ansiedade.
Evite perguntar “Quem é esta pessoa?”, “Onde foi tirada esta fotografia?” ou “Como se chama este objecto?”, pois responder a estas perguntas implica o recrutamento de funções cerebrais que tendencialmente estarão menos preservadas no caso de uma pessoa com demência.
Evite também utilizar termos como “Lembras-se de….?” pois a pessoa poderá ser confrontada com a sua incapacidade para se lembrar ou para saber.
Nas fases ligeira a moderada da demência faça os possíveis para estimular o pensamento crítico da pessoa. Poderá, a título de exemplo, pedir a sua opinião relativamente à moda de vestuário de antigamente comparativamente com a da actualidade, tendo por base uma fotografia antiga. Esteja preparado para a possibilidade da pessoa manifestar uma opinião diferente do que outrora manifestou.
Alternativamente, a sua resposta poderá não ser tão coerente como antigamente. Tente abstrair-se dessas diferenças e dê um reforço positivo: “Aquilo que acabou de dizer é muito interessante”, “Nunca tinha pensado nas coisas dessa forma”, “Concordo consigo”.
Finalmente, a reminiscência não deve dominar os momentos em família. Muitas vezes cometemos o erro de achar que a evocação de memórias remotas é a melhor forma de estimular a pessoa e contribuir para o seu bem-estar, porque estas estão mais preservadas do que as memórias recentes. No entanto, é tão ou mais importante centrar a pessoa no presente e orientá-la para o futuro e isto implica envolvê-la no processo de tomada de decisão e em conversas que estejam relacionadas com a actualidade (dentro do possível).
Lembre-se que o mais importante é mesmo a partilha, nesta que é uma quadra de paz e celebração da família.
Texto: NeuroSer