Centro de Diagnóstico e Terapias: Alzheimer e Outras Patologias

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A Demência e a Comunicação Conjugal

À medida que a demência progride as dificuldades na comunicação vão sendo cada vez mais evidentes – por exemplo, não conseguir evocar uma determinada palavra ou fazer a mesma pergunta vezes e vezes sem conta. Consequentemente, os casais afectados pela demência podem experienciar sentimentos de isolamento e de tristeza.

Um estudo recente da Florida Atlantic University procurou perceber de que forma casais afectados pela Doença de Alzheimer mantêm os seus relacionamentos ao longo de vários anos de casamento. Os investigadores filmaram (não presencialmente) 15 casais nas suas casas, uma vez por semana durante 10 semanas e analisaram as características verbais e não-verbais da sua comunicação.

Verificou-se que:

  • os participantes naturalmente discutiam sobre temas da actualidade o que, de alguma forma, ajudava a normalizar a vivência da pessoa com demência e do seu cônjuge;
  • os momentos de reminiscência (recordação), em que os casais partilhavam memórias acerca de pessoas e eventos remotos, também eram frequentes;
  • muitos dos cuidadores contavam histórias aos seus cônjuges, apesar de alguns participarem pouco na conversa;
  • os cuidadores mostravam-se encantados quando, numa determinada interacção, os seus cônjuges com demência contribuíam para além daquilo que era esperado;
  • os cuidadores facilmente aceitavam a contribuição dos seus cônjuges, sendo para eles mais importante valorizar a relação do que interromper a conversa para corrigir a resposta.

Os investigadores concluíram que os cônjuges cuidadores assumiam grande parte da responsabilidade de manter uma relação saudável. No entanto, os cônjuges com demência também tinham uma participação activa na comunicação, mesmo que apenas através da manutenção do contacto ocular com o cuidador.

De acordo com os autores deste estudo, estes resultados são particularmente interessantes porque, até ao momento, a investigação tem vindo a focar-se apenas nas dificuldades que os casais experienciam e não nas estratégias espontaneamente empregues para manter um relacionamento saudável (apesar da deterioração cognitiva).

Salientar estes fenómenos conjugais pode ajudar a trazer esperança àqueles cuidadores que estão desesperados e que perderam o alento.

Uma implicação clínica destes resultados é a necessidade de incluirmos mais frequentemente os cônjuges no processo terapêutico de pessoas com demência, pois são um elemento crucial para garantir a sua estabilidade emocional.

Aproveite também para recordar algumas estratégicas para Melhorar a Comunicação com uma Pessoa com Demência.

Texto: NeuroSer

Referência de artigo: Williams, C.L. (2015). Maintaining Caring Relationships in Spouses Affected by Alzheimer’s Disease. International Journal of Human Caring.